O verão está chegando e resolvi fazer uma panorama geral dos desafios de Salvador, Bahia. Talvez com isso em mente, consigamos pensar em soluções coletivas, recorrentes e com alto impacto positivo.
DESAFIOS
1. DESOCUPAÇÃO E DESEMPREGOS
A taxa de desocupação no estado da Bahia voltou a ser a maior do país. Isso significa que existem pessoas que estão ativamente procurando por emprego, mas não conseguem encontrar uma colocação. São pessoas disponíveis para trabalhar, fazem parte da força de trabalho ativa e estão em busca de oportunidades de emprego, mas temporariamente não estão empregadas.
Diferente dos desalentados que são aqueles que, após tentativas contínuas de encontrar emprego sem sucesso, desiste de procurar trabalho. Essas pessoas, por diversas razões, como desencorajamento pela falta de oportunidades, podem deixar de fazer parte da força de trabalho ativa. Assim, mesmo que estejam desempregadas, não estão mais consideradas na contagem oficial de desemprego, pois não estão ativamente buscando emprego.
Essa distinção é crucial ao analisar as estatísticas de desemprego de um país, pois nem todos os desempregados são contabilizados da mesma maneira.
Dito isso, apesar da notícia que Salvador foi a capital do Nordeste que mais gerou empregos em 2022, a cidade teve tendência maior de queda na taxa de desocupação, do 2º (16,0%) para o 3º trimestre (15,1%), mas também voltou a ser a capital com maior índice de desemprego no Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) Trimestral do IBGE, 2023.
2. EDUCAÇÃO
Considerando o ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),a Bahia está nas últimas posições. O indicador aponta que o estado caiu da 22ª para a penúltima colocação em aprendizagem de português e matemática e tem a quarta pior nota no índice geral do ensino médio oferecido na rede estadual.
3. FESTAS, BARES E RESTURANTES
O turismo, que compõe aproximadamente 6% do PIB de Salvador, aliado a mais de 15 mil bares e restaurantes, se destaca como um dos principais empregadores locais.
A economia criativa e cultural da Bahia desempenha um papel crucial na geração de receita. Em 2018, esse setor movimentou cerca de R$ 8 bilhões, correspondendo a 3,2% do PIB estadual. E 45% desse valor está relacionado a Festas e Celebrações, seguido de Audiovisual correspondendo a 24%, impulsionando o turismo e tornando-se importantes geradores de emprego na cidade.
Porém, não podemos ignorar o impacto da pandemia para este segmento.
Segundo os dados da pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes - Abrasel, 53% dos bares de Salvador têm pagamentos em atraso. Dívidas vencidas com impostos, fornecedores ou serviços públicos foram citadas. 86% devem impostos federais, como imposto de renda, pis/cofins ou parcelas do Simples. Outros 45% são serviços de água/luz/gás/telefonia, 41% devem impostos estaduais, 34% têm débitos com fornecedores de insumos, 31% encargos trabalhistas, 24% estão com o aluguel atrasado e 21% taxas municipais.
4. ÍNDICE DE CIDADES EMPREENDEDORAS (ICE)
Em 2022, Salvador estava na 39º colocação no Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) e em 2023 caiu 47º.
Como mostra a imagem acima, a categoria Infraestrutura saiu de 23º para 22º . E sobre infraestrutura estamos falando de conectividade via rodovias, número de decolagens por ano, distância ao Porto mais próximo, acesso à internet rápida, preço médio por metro quadrado, custo da energia elétrica e taxa de homicídios. Para resumir, a infraestrutura está direcionada para transporte interurbano e condições urbanas.
O pilar de inovação saiu de 46º para 43º. Sobre inovação, o ICE destaca:
O determinante Inovação é formado por dois subdeterminantes. O subdeterminante Inputs remete aos recursos humanos, financeiros e estruturais que potencializam o empreendedorismo inovador. Para tanto, são considerados cinco indicadores: Proporção de Mestres e Doutores em C&T (ciências, tecnologia, engenharias e matemática); Proporção de Funcionários em C&T; Média de Investimentos do BNDES e FINEP; Infraestrutura Tecnológica, que remete à presença de parque tecnológico na cidade; Contratos de Concessão, que se pauta no percentual de contratos de propriedade intelectual depositados por empresa.
Já o subdeterminante Outputs aponta para os resultados que tais recursos efetivamente geraram em termos de infraestrutura para a inovação das cidades. A expectativa é que cidades que conseguiram estruturar melhor os recursos disponíveis têm mais chances de gerar empreendimentos inovadores. Assim, são analisados quatro indicadores: Patentes por grupo de mil empresas; Tamanho da Indústria Inovadora; Tamanho da Economia Criativa; Tamanho das Empresas TIC, que representam o percentual de empresas da área de tecnologia da informação e comunicação.
Quando falamos de cultura empreendedora, o ICE destaca iniciativas e instituições, que teve uma queda drástica no ranking (19º para 37º).
CAMINHOS POSSÍVEIS
As soluções para os desafios apresentados não serão criadas e colocadas em práticas sozinhas. A partir da minha microbolha e atuação, alguns caminhos possíveis consigo desenhar. Por exemplo:
1. CULTURA EMPREENDEDORA
Uma das minhas apostas é incentivar e acelerar a cultura empreendedora da cidade. A Inventivos, plataforma de formação, conexão e investimento em empreendedores do Brasil, tem feito isso.
É necessário popularizar também as iniciativas já existentes de incentivos fiscais como:
PIDI- Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Sustentável e Inovação
Revitalizar: Programa de Incentivo à Restauração e Recuperação de Imóveis no Centro Antigo de Salvador e no Conjunto Urbano e Arquitetônico da Cidade Baixa de Salvador.
PIF- Plano De Incentivos Fiscais
IPTU Verde
IPTU Amarelo
Política Municipal De Inovação
Proturismo: Programa Especial de Incentivos Fiscais à Atividade Turística
Procultura: Programa de Retomada do Setor Cultural é um estímulo para a realização de eventos em Salvador no pós-pandemia
Viva Cultura: Programa de incentivo que tem o objetivo de fortalecer a economia através do desenvolvimento cultural e artístico.
2. FESTAS E CELEBRAÇÕES
Salvador é uma cidade que não tem uma vida noturna expressiva. Os bares e restaurantes fecham cedo. Hoje, o Bombar se destaca como um dos poucos lugares com uma vida noturna ativa em Salvador, atraindo jovens e turistas ávidos por entretenimento e diversão. Além disso, o Bombar é um ponto cultural de relevância ímpar, com uma juventude urbana que busca expressar sua identidade por meio das artes e manifestações culturais.
Se 45% do valor movimentado pela economia criativa e cultural da Bahia está relacionado a Festas e Celebrações, precisamos desenhar estratégias que garantam eventos o ano inteiro, não apenas no Verão. E as produções audiovisuais que correspondem a 24% do valor da economia criativa, podem ser mais incentivadas.
Para garantir uma recuperação mais rápida de bares e restaurantes e, talvez criar uma cena noturna na capital baiana, precisamos que o poder público desenvolva também programas de benefícios com taxas menores realizações de shows, espetáculos artísticos e eventos culturais. Senão, o setor continuará em débito e a economia da cidade estacionada.
Em resumo, precisaremos dos esforços da sociedade civil, poder público e privado para garantir que Salvador e o estado da Bahia voltem a brilhar da melhor forma: com educação, emprego e cultura.
Monique, que bacana essa leitura, análise e "lista do que fazer" que você trás. Vejo esse desejo de transformar Salvador muito forte em você. Me coloco à disposição no que precisar. Vejo a maioria dos seus movimentos como inspiração para que no futuro eu faça o mesmo pelo meu estado Minas Gerais com foco em BH e Ouro Preto.