Já senti culpa por ter mais sucesso que meus amigos e familiares.
A culpa pelo sucesso
O sucesso pode ser uma experiência ambígua. De um lado, ele é o resultado do seu esforço, talento, dedicação e vários outros fatores. De outro, pode carregar uma sensação de culpa, especialmente quando você percebe que amigos e familiares estão enfrentando dificuldades enquanto você prospera. É como se o brilho do seu sucesso iluminasse também as desigualdades e desafios na vida das pessoas que você ama.
Se você já se sentiu culpada por ter mais sucesso que seus amigos ou familiares, saiba que essa é uma experiência comum. Mas é importante entender que essa culpa não precisa ser uma âncora que te paralisa ou impede de avançar. Pelo contrário, ela pode ser uma oportunidade de crescimento, de empatia e de impacto positivo.
Eu sei exatamente como é carregar o peso da culpa pelo sucesso. Quando comecei a conquistar mais espaço como empreendedora, investidora e mentora, me vi em situações que nunca imaginei. Algumas eram positivas, como o reconhecimento e as oportunidades que surgiam. Outras, no entanto, traziam um peso emocional difícil de lidar.
Algumas conversas com amigos e familiares que me faziam questionar se eu estava me afastando demais de onde vim. Era como se o sucesso criasse um abismo invisível, onde minha realidade e a deles começavam a parecer inconciliáveis.
O pior momento dessa culpa veio quando percebi que evitava falar sobre meu trabalho em certas rodas de conversa. Eu tinha medo de parecer arrogante ou de destacar ainda mais as dificuldades que outras pessoas próximas estavam enfrentando. Comecei a minimizar minhas realizações, a me esconder atrás de frases neutras como: "Estou tentando algumas coisas." ou "Ainda tenho muito a aprender.".
Mas a culpa pelo sucesso também trouxe um aprendizado que ninguém nos ensina diretamente: nem todo mundo que você sente que deve ajudar realmente precisa ou merece a sua ajuda. Existe uma frase que não lembro onde ouvi ou li que, apesar de dura, é extremamente verdadeira: "Nunca ajude um 'fudido' sem entender porque ele está 'fudido'."
Essa frase não é uma forma de desrespeitar ninguém, mas um lembrete de que muitas pessoas estão em situações difíceis devido a decisões repetidas, padrões que não querem ou não conseguem mudar, e expectativas irreais de que os outros sempre venham para "salvá-las". Isso me levou a entender que ajudar cegamente pode ser não só desgastante, mas também ineficaz.
Nem todo mundo deve ser ajudado
A ideia de ajudar os outros é frequentemente romantizada, vista como um ato nobre e inquestionável. Crescemos ouvindo que devemos sempre estender a mão, dividir o que temos e estar disponíveis para aqueles que precisam. Mas, ao longo da vida — especialmente no mundo dos negócios e do empreendedorismo — aprendi uma verdade que não é fácil de engolir: nem todo mundo deve ser ajudado. E, mais importante, nem toda ajuda é realmente ajuda.
Esse aprendizado me mostrou que, no meu caminho, eu precisaria discernir muito bem onde e como investir meu tempo e energia. Já passei por situações em que ofereci ajuda, e a pessoa não estava pronta para recebê-la. Houve momentos em que empreendedores, amigos ou conhecidos esperavam que eu resolvesse problemas que eram fruto de escolhas contínuas que eles mesmos haviam feito.
Esses momentos me ensinaram que dizer não é, muitas vezes, um ato de amor próprio e também de respeito pela outra pessoa. Quando você tenta ajudar alguém que não quer ou não está preparado para ser ajudado, você não está realmente contribuindo para o crescimento dela. Está apenas atrasando o aprendizado que ela precisa ter.
Decidir quem ajudar e como ajudar é um processo que exige sensibilidade, mas também firmeza. Ajudar sem critérios não é bondade, é exaustão disfarçada. Aprendi que nem sempre você está sendo egoísta ao dizer não, muitas vezes, está sendo realista. Isso é especialmente importante para mulheres negras e outras pessoas de grupos subrepresentados, que carregam um peso emocional adicional de representar algo maior do que suas próprias histórias. O mundo espera que sejamos sempre fortes, sempre disponíveis, sempre generosas. Mas isso não é sustentável.
O outro lado da ajuda
Há também outro aspecto que raramente é discutido: ajudar requer energia, tempo e, muitas vezes, recursos. Ao dizer "sim" para tudo e todos, acabamos esgotando nossas próprias forças e deixando de ajudar quem realmente poderia se beneficiar. Aprendi que dizer "não" é, muitas vezes, mais benéfico — tanto para mim quanto para a pessoa que buscava ajuda.
E tem mais: nem todo mundo vai valorizar o que você faz por eles. Já vivi situações onde, após oferecer meu tempo, experiência e até recursos, as pessoas simplesmente desapareceram, ignoraram ou reclamaram que não era o suficiente. Não é ingratidão que me incomoda, mas sim a sensação de que a ajuda foi mal direcionada.
Como decidir quem ajudar
Para não cair na armadilha de ajudar quem não está pronto ou disposto, desenvolvi algumas reflexões que me guiam:
A pessoa está disposta a mudar?
Se a resposta for "não", minha ajuda será em vão. Não adianta investir em alguém que não quer investir em si mesmo.Existe um esforço mútuo?
Ajuda não é caridade emocional. É um processo de troca, onde a pessoa deve estar engajada e comprometida.Minha ajuda será uma ponte ou uma muleta?
Se a ajuda cria dependência em vez de autonomia, não está cumprindo seu propósito.Isso está alinhado aos meus valores e limites?
Antes de dizer "sim", pergunto se isso está de acordo com meus princípios e se tenho energia para oferecer.
Nem todo mundo merece seu sim, e isso não faz de você uma pessoa egoísta, faz de você alguém sábio.
Ajudar é uma escolha, não uma obrigação. E, ao escolher cuidadosamente onde e como investir sua energia, você não apenas preserva sua saúde mental, mas também garante que sua ajuda tenha impacto real e duradouro. Até porque existem pessoas que transformam cada ajuda em mais dependência. Elas não querem soluções, querem paliativos.
E nessa jornada, percebi que sentir culpa não era apenas improdutivo, mas também injusto comigo mesma. Meu sucesso não veio do nada. Foi resultado de trabalho duro, escolhas difíceis e sacrifícios que nem sempre eram visíveis para quem estava ao meu redor.
Mas lidar com essa culpa exigiu que eu ressignificasse minha relação com o sucesso e com as pessoas ao meu redor. Não é fácil aceitar que nem todos vão torcer por você e que, em alguns casos, seu crescimento pode ser visto como uma ameaça ou um reflexo das escolhas que outros não fizeram. Mas essa reflexão trouxe uma nitidzez importante: meu sucesso não é uma traição às minhas origens, mas uma ampliação delas.
Essa leitura me fez parar tudo que eu estava fazendo e me percebi focado nela como se o mundo tivesse sido apagado. Acabei de ler e fiquei um tempo pensando. Anotei duas frases que resumem tudo e que vou levar comigo pra vida. Saio mais maduro do que entrei. Sinto uma gratidão profunda agora. Muito obrigado!
Eu precisava muito ler esse texto! 🤎