A regra dos 90% como bússola para investir em negócios.
Não é um. filtro para excluir, é um filtro para proteger.
Na jornada do investimento, existe sempre uma encruzilhada. De um lado, a sedução dos pitchs bem construídos, das causas urgentes, das narrativas que emocionam. Do outro, a responsabilidade de manter os pés no chão, olhar para a estrutura, para o modelo, para a capacidade real do negócio continuar funcionando e existindo.
Eu já me peguei escolhendo o primeiro caminho, mesmo sem motivo racional por trás. Mas aprendi da forma mais difícil que o caminho da emoção, quando não é equilibrado com estratégia, estrutura e clareza, pode causar mais dano do que transformação.
Como funciona a regra dos 90% na prática
Em um mundo onde todos parecem competir para dizer “sim” primeiro, eu decidi fazer o movimento oposto: adotar a Regra dos 90% como meu filtro de decisão. Um critério simples, direto e, ao mesmo tempo, profundo.
Foi assim que incorporei à minha tese a ideia trazida por Greg McKeown no livro Essencialismo, que mudou radicalmente minha forma de escolher o que merece ou não minha energia e, principalmente, meu dinheiro:
Se algo não for um 90% ou mais, então é um 0.
Nada de meio termo. Nada de ‘quase’. Nada de ‘pode ser que’.
Se não for um SIM absoluto, é um NÃO claro.
Essa é a régua adotei para tomar decisões de investimento, com base em experiências passadas. E mais do que isso: é a régua que protege minha presença, meu tempo e, principalmente, a potência das pessoas fundadoras com quem me comprometo.
Dizer “não” é mais generoso do que parece.
Existe uma crença silenciosa de que o investidor, por empatia ou desejo de ajudar, deve se comprometer com toda causa nobre ou proposta “bem-intencionada”. Claro que isso já passou pela minha cabeça. Já disse “sim” para negócios que me tocavam emocionalmente, mesmo sabendo que não estavam maduros, nem que eu teria como contribuir profundamente.
O resultado? Desalinhamento, frustração, desgaste e, em alguns casos, o colapso silencioso do negócio.
Foi nesse cenário que a Regra dos 90% entrou como salvaguarda. Ela me ensinou que meu “não” pode ser o gesto mais honesto e responsável que eu posso oferecer. Porque dizer “sim” para algo que eu não posso sustentar com estrutura, canal, tecnologia ou profundidade de presença, é comprometer o negócio desde o início.
Toda vez que sou convidada a investir em um negócio, me faço cinco perguntas fundamentais:
Esse negócio está no centro da minha tese?
Ele ativa meu conhecimento técnico?
Eu consigo contribuir com minha rede de apoio e parceiros estratégicos?
Tenho canais de distribuição ou visibilidade que podem acelerar essa empresa?
Minha presença pode alavancar esse negócio nos próximos 18 meses?
Se a resposta não for um “sim absoluto” em pelo menos 90% dessas questões, eu recuo. Não por desinteresse. Mas por respeito. Porque não sou a investidora certa —e está tudo bem.
Negócios crescem melhor quando têm ao lado quem pode multiplicar, e não apenas torcer
Tenho clareza de que minha tese não é genérica. É focada. É direcionada. Invisto em negócios com potencial de impacto e escala, com estruturação de marca, tecnologia aplicada e um propósito que esteja vivo na operação, não apenas no pitch. Além de outros critérios.
Se a empresa se encaixa nisso, minha presença soma. Se não se encaixa, meu capital não resolve. E isso vale inclusive quando o time é excelente.
Já recusei negócios incríveis em segmentos que não domino, como alimentos ou logística. Porque não consigo ajudar com tração, perks técnicos (como cloud, BI, ferramentas de growth) ou regulação específica (como ANVISA, MAPA, vigilância sanitária, etc.).
Meu “não” nesses casos não é uma porta fechada. É um redirecionamento para que aquela fundadora encontre a investidora certa, no momento certo.
A Regra dos 90% é boa para os negócios porque economiza o ativo mais precioso: tempo.
Tempo mal alocado custa caro. Para o investidor, para a fundadora, para o ecossistema.
A Regra dos 90% reduz decisões tomadas no calor do pitch e aumenta a taxa de sucesso de negócios que recebem, de fato, o suporte necessário para crescer. Ela poupa o empreendedor da frustração futura e preserva o capital de quem aposta com responsabilidade.
Ela também educa o mercado a fazer perguntas melhores:
“Essa investidora sabe multiplicar o que eu preciso?”
“Essa fundadora tem clareza sobre o que espera do investimento?”
“Essa relação está sendo construída com estratégia ou ansiedade?”
Quando o critério é claro, o vínculo é mais potente.
No fim, trata-se de um pacto com o essencial
Eu sigo acreditando que é possível transformar o mundo com negócios. Mas hoje, acredito também que essa transformação exige clareza brutal, estratégia disciplinada e presença intencional.
A Regra dos 90% não é um filtro para excluir, é um filtro para proteger.
Proteger minha energia, proteger o sonho da empreendedora e proteger o futuro do ecossistema. Porque quando eu digo sim, estou inteira. E para isso, meu “não” precisa ser claro. Simples assim.
Diria que esse texto reforça seu compromisso. Você poderia simplesmente não dizer nada, afinal o dinheiro é seu, conquistado com seu trabalho, através da sua visão estratégica. Porém compartilhou conosco aqui toda uma visão.
Sei que no dia a dia tem toda uma questão estrutural envolvida (algumas pessoas nunca são ou serão cobradas sobre como utilizam o próprio dinheiro que muitas vezes nem foram elas mesmas que ganharam).
Ver sua maneira prática de enxergar a situação trouxe um conhecimento que eu sei que vai ser muito útil (e muito em breve =)).
Brigadu!