Vivemos em uma sociedade que valoriza a produtividade, o sucesso e a perfeição. As redes sociais, os filmes e até mesmo as conversas cotidianas nos fazem acreditar que ser bem-sucedido é uma obrigação. Não apenas no trabalho, mas em todas as áreas da vida: carreira, família, vida pessoal, relacionamentos e até hobbies. Essa pressão constante para dar conta de tudo, ser sempre o melhor e não falhar pode ser sufocante.
Mas a pergunta que não quer calar é: Será que precisamos mesmo ter sucesso em tudo?
Essa reflexão veio após dois ocorridos. O primeiro foi assistindo ao filme Chevalier: A Verdadeira História Nunca Contada. O longa-metragem, que narra a vida de Joseph Bologne, o Chevalier de Saint-Georges, um violinista, compositor e esgrimista do século XVIII, conta a história de um homem negro extraordinário que, sendo filho de uma mulher escravizada e de um aristocrata francês, enfrentou o racismo e as barreiras sociais de sua época. Apesar de seu talento excepcional, Chevalier foi constantemente confrontado com a necessidade de ser impecável em tudo o que fazia, especialmente por sua condição racial.
Uma cena em particular me marcou profundamente. No filme, o pai de Chevalier diz a ele:
Você precisa ser excelente. Ninguém humilha um francês excelente.
A partir desse momento, Chevalier não tinha outra opção a não ser ser perfeito. Esse tipo de pressão me fez refletir sobre como, mesmo séculos depois, muitos de nós, especialmente pessoas negras, ainda carregamos esse fardo de "precisar" ser excepcionais para sermos respeitados ou reconhecidos. Assim como Chevalier, muitas vezes somos condicionados a acreditar que só temos valor se formos impecáveis em tudo.
O segundo acontecimento foi quando recebi uma mensagem no LinkedIn de uma pessoa que tinha assistido a uma entrevista e uma palestra minha. Ela me elogiou pelo quanto sou profunda ao abordar diferentes temas. Até aí, tudo bem. Mas logo em seguida, a pessoa me disse que eu deveria escrever apenas conteúdos densos.
Na mesma hora, lembrei de algo que Simone Biles disse em seu documentário:
Quando você ganha, as expectativas sobre sua carreira mudam. Toda vez que apareço, querem que eu vença.
E isso me fez pensar: será que preciso ser densa e profunda o tempo todo? Preciso atender a todas essas expectativas?
A resposta é não. Eu não quero e nem preciso estar à altura de todas as demandas que os outros colocam em mim. A liberdade de escolha, seja para escrever uma postagem curta e leve ou uma análise mais profunda, é minha. Não somos obrigados a corresponder a padrões externos ou nos enquadrar em uma expectativa que, muitas vezes, nem faz sentido para nós. Assim como Chevalier e Simone Biles, cada um de nós tem o direito de escolher quando e como vamos nos entregar, e não deixar que as expectativas alheias guiem nossas escolhas.
SOBRE SUCESSO
Desde muito cedo, somos ensinados que sucesso é sinônimo de validação. Estudar nas melhores escolas, entrar nas universidades mais concorridas, conquistar o emprego dos sonhos, manter uma vida familiar perfeita, ter uma saúde impecável e, claro, sempre estar com um sorriso no rosto. Isso tudo enquanto construímos uma carreira brilhante e inspiramos as pessoas ao nosso redor. Não parece cansativo só de ler? Imagina para uma pessoa preta?
A sociedade nos empurra para esse ideal de excelência constante, e isso gera um peso imenso em nossos ombros. Ser excelente em todas as áreas é um objetivo inatingível, mas ainda assim, muitos de nós se sentem obrigados a perseguir essa meta.
Eu mesma já me vi nesse ciclo de exigências, tentando corresponder a expectativas que não eram apenas minhas, mas também de outras pessoas e da sociedade. E a verdade é que não importa o quanto a gente tente, essa corrida pela perfeição é exaustiva e, muitas vezes, insustentável.
Essa pressão pode ter um impacto profundo em nossa saúde mental e física. Burnout, ansiedade, estresse crônico, insatisfação consigo mesmo e até a sensação de fracasso são algumas das consequências de tentar dar conta de tudo o tempo inteiro. Quando somos forçados a ser bem-sucedidos em todas as áreas, esquecemos que somos seres humanos, não máquinas.
Além disso, essa busca incessante por sucesso em todas as frentes nos faz perder de vista o que realmente importa para nós. Será que estamos buscando essas metas porque realmente acreditamos nelas? Ou estamos apenas seguindo um roteiro que foi imposto para nós, seja pela sociedade, pelas redes sociais ou pelas expectativas familiares?
Uma das lições mais importantes que aprendi ao longo da minha jornada é que não precisamos ser excelentes em tudo. E, mais importante ainda, é que tudo bem não dar conta de todas as áreas ao mesmo tempo. O sucesso não é um conceito universal que se aplica a todas as situações da mesma forma.
É preciso aprender a priorizar. Quais áreas da sua vida realmente importam para você neste momento? Onde está o seu propósito? O que te faz sentir completo? Às vezes, focar em uma área – seja a carreira, o autocuidado ou os relacionamentos – é a melhor decisão para garantir um equilíbrio mais saudável e sustentável.
E quando abrimos mão de tentar controlar tudo, ganhamos espaço para respirar. O sucesso verdadeiro não é sobre acumular conquistas em todas as áreas da vida, mas sim sobre encontrar harmonia e equilíbrio entre aquilo que nos faz bem e aquilo que precisamos entregar.
Outro ponto importante é redefinir o que significa sucesso para você. O que as redes sociais ou a sociedade consideram sucesso pode não ter nada a ver com os seus valores ou desejos. Para algumas pessoas, o sucesso está em construir uma carreira sólida. Para outras, pode estar em ter tempo de qualidade com a família, ou ainda em encontrar momentos de paz e bem-estar mental.
Lembre-se de que o sucesso é algo extremamente pessoal. Quando você começa a enxergar que não precisa seguir um molde ou atender a todas as expectativas, você se liberta. Permita-se falhar em alguns aspectos, reconhecer suas limitações e, acima de tudo, ser gentil consigo mesmo.
Uma das maiores libertações é aceitar que somos seres imperfeitos. E tudo bem. Quando aceitamos que falhar faz parte do processo, aprendemos a abraçar a jornada de crescimento de uma forma mais leve. Não precisamos carregar o fardo de sempre parecer impecáveis ou dar conta de todas as responsabilidades com perfeição.
Liberte-se da ideia de que você precisa ser 100% em todas as áreas. E entenda que o sucesso real vem do autoconhecimento e da aceitação de que, às vezes, o maior ato de coragem é reconhecer que está tudo bem em não ser perfeito.
A pressão para ser bem-sucedido em todas as áreas da vida é um reflexo das expectativas irreais que a sociedade impõe. No entanto, temos o poder de redefinir o que sucesso significa para nós. Permita-se ser imperfeito, priorize o que realmente importa e saiba que é possível ter sucesso sem precisar carregar o peso de ser excelente em tudo.
No final das contas, o sucesso é pessoal e não tem uma fórmula única. Está na maneira como você encontra equilíbrio, como você cuida de si mesmo e como você faz as pazes com suas próprias expectativas. A verdadeira vitória é ser fiel a quem você é, não ao que esperam de você.
Monique chega ser estafante ouvir as pessoas falando que devemos ser bem-sucedida a todo momento.